Frota de ônibus aos domingos, grupos de jovens e rap no buzão.

Hoje foi um domingo bem agraciado: optei por fazer uma visita a uns amigos que participam de dois grupos de jovens, em um bairro e um conjunto que fica não muito perto de minha casa.

Isso me deixou por um lado alegre e por outro lado bem triste, pois ter que pegar ônibus dia de domingo aqui é uma prova de paciência. Além de termos a segunda passagem de ônibus mais cara do Nordeste (R$ 2,25), ainda sofremos com a frota de ônibus reduzida aos domingos. É um desaforo, ter que esperar quase uma hora pra passar um ônibus e pagar uma passagem tão cara! E ainda vem o secretário dos transportes falar na televisão que o aumento é para poder oferecer ônibus climatizados. UMA GRANDE FARSA! Desde ano passado que usam a mesma desculpa pra aumentar as passagens de ônibus. E só uma linha é que oferece ônibus com ar condicionado. Isso sem contar que essa linha de ônibus é uma linha que só circula nos bairros nobres da zona sul. Mas como já disse antes: o pessoal vende o voto pra essa corja, e depois não tem direito de reclamar.

Entrei no ônibus e segui viagem até as paróquias, onde esse pessoal se reune com seus grupos de jovens. Passei algumas horas com eles e é sempre bom encontrar com esse pessoal. São pessoas de bem com  a vida, apesar dos compromissos e  problemas. Pessoas que de alguma forma ou de outra; por amor ou pela dor, se encontraram com Deus e não fizeram disso uma alienação. Olhando pra eles, percebo que os pais que levam os seus filhos para as igrejas e ensinam eles a não se alienar, dificilmente vão buscá-los nas cadeias ou nos caixões.

Mas a mente do ser humando ainda é um mistério a ser desvendado, e o que mais podemos fazer de melhor, é ficarmos atentos ao comportamento das pessoas queridas que nos rodeiam. Pois até mesmo atrás de um sorriso pode estar escondido um pedido de ajuda. E ser amigo é saber identificar isso.

Depois que visitei o segundo grupo de jovens (aproveito que se reúnem no mesmo dia em horários diferentes, e visito os dois)na volta, fiz o trajeto até o terminal de ônibus, e fiquei esperando o ônibus que passa aqui perto de casa chegar. Assim que o ônibus parou, entraram uma turminha meio barra pesada, que era o contrário do pessoal que eu estava reunido. Eram quatro adolescentes: dpis meninos e duas meninas. Dava pra ver pelas roupas e pelo comportamento arruaceiro, que eles moravam em algum bairro periférico daqui.

Notei que as pessoas olhavam pora eles com um ar de incomodados, por eles estarem falando alto e tinha um adolescente que estava fumando cigarros durante a viagem. Mas isso não foi o motivo maior delas estarem incomodadas. Notei que a simples presença de um morador de um bairro de periferia em qualquer lugar, é motivo de medo. Já trabalhei com jovenms de perifeira e aprendí uma coisa: a boa pessoa e a má pessoa que mora nas perifeiras, são irreconhecíveis aos olhos desatentos, porque se vestem do mesmo jeito. Mas uma coisa difere o bom do mau: o olhar. Para quem é um bom observador, o olhar diz quem você é logo de cara. E eu olhava os olhos deles e via que eles não eram pessoas ruins, só se comportavam de uma maneira diferente dos demais dentro do ônibus.

O ápice pra terminar de irritar as pessoas foi que eles começaram a cantar raps dentro do ônibus. A maneira crua que eles cantavam as músicas estavam irritando mesmo os demais. A mim não porque eu adoro rap. O primeiro CD de rap que caiu na minha mão e abriu meus ouvidos, foi o cd "SOBREVIVENDO NO INFERNO", do grupo Racionais Mc's. Depois desse disco, comecei a prestar mais atenção a esse tipo de som.

Mas acontece que as massas são acostumadas com os Michéis Telós e Luãs Santanas da vida. Músicas cheias de nhêm-nhêm-nhêm, que não trazem mensagem nenhuma é que fazem parte da cultura inútil desse povo, pois mascarar a realidade é fácil. Difícil é ter coragem de jogar na cara a vida difícil que as pessoas levam. E o rap proporciona isso, mesmo sendo um ritmo marginalizado.

Se alguém se manifestasse fisicamente ou verbalmente contra os meninos estarem cantando, eu ia também manifestar a minha opinião, mas ninguém o fez. Desci no ponto de ônibus e vim pra casa, contar essa experiência de hoje para vocês. Está um pouco tarde e precios dormir, pois mais tarde começa a vida de zelador de novo. Esse fim-de-semana preferi ficar em casa, e foi tão proveitos quanto sair pra curtir.
Espero que aproveitem a postagem pra refletir sobre alguma coisa. Uma ótima semana para todos.