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Pronto para limpar até as arestas mais difíceis!

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Meus primeiros meses como funcionário público

Por incrível que pareça, trabalhava como professor em uma escola particular até o final do ano passado. E posso afirmar de pé junto que escola particular é como um vampiro: suga seu tempo disponível e suas energias, não lhe retribuindo à altura (são poucas aqui que fazem isso). Não conseguia sequer produzir um artigo na Universidade por causa da falta de tempo (estudo numa Universidade federal), e até as mulheres que eu saía ano passado não queriam mais nada comigo (eu saía com três).

Foi quando, num belo dia do mês de novembro de 2010, eu recebí uma carta do governo do estado, sendo convocado para me apresentar na secretaria de administração, pois tinha feito um concurso público em 2006 (eu nem estava na universidade nessa época, entrei em 2008) para a função de zelador de escola pública, ou executor de serviços básicos. Aquilo foi como um presente vindo do Céu, pois já não aguentava mais dar aulas em uma escola particular que pagava tão pouco e exigia até sua alma, se você estivesse afim de negociar por ela. Assim que a carta chegou, chutei o balde, esculachei as aulas na escola e fui demitido, peguei a recisão e fui curtir o mês de dezembro do ano passado inteiro. Nada me foi tão merecedor!

Também aproveitei o "mês de férias", e fiz todos os testes e exames adimicionais, e esperei a ligação me dizendo em qual escola eu deveria me apresentar. Para surpresa da minha parte, a escola ficava numa comunidade periférica na zona sul do estado, a uma hora de ônibus da minha casa. Fui lá, umas duas vezes para encontrar a diretora, e só consegui quando deixei meu número residencial, e ela me ligou avisando o horário em que estaria disponível. Ela se chama Nelma: loira, altura mediana e cinquentona. Me explicou todos os procedimentos da escola, eu dei uma volta com ela e ví que a escola não é grande, e que o serviço também não seria muito. Assim que terminei o meu tour escolar, peguei o ofício que ela assinou e leve na secretaria de administração. Isso foi no dia 30 de dezembro de 2010.

No dia 03 de janeiro de 2011, lá estava eu, entrando no primeiro dia de trabalho como funcionário público.
A escola ainda estava em período escolar, pois tinha começado com atraso o segundo semestre de 2010. Os alunos ainda estavam fazendo as provas finais e a recuperação. Nessa primeira semana, tive o meu primeiro contato com o sistema educacional estadual: os alunos não fazem o controle de suas notas.
Muitos estavam correndo atrás dos professores pra saber se eles tinham passado de ano ou não. Era deprimente ver o quanto as escolas públicas tinham evoluído por um lado e involuido por outro. A escola tem uma estrutura considerável, mas os alunos não estão nem aí pra nada! E pra piorar, a comunidade também não ajuda. Por causa das drogas como o crack e a maconha, a escola é alvo de arrombamentos quase que semanais. A cozinha mesmo foi arrombada umas duas vezes, quando eu comecei a trabalhar lá. Roubaram na primeira vez um botijão de gás. Na segunda roubaram além do botijão, um ventilador que estava chumbado na parede. Mas isso também revela um fato que é visto na televisão e está chegando às classes inferiores: a corrupção. Por vermos todos os dias cenas de governantes não fazendo nada e recebendo por isso, muitos funcionários de funções menores fazem om mesmo. A escola tem um vigilante responsável pra ficar tomando conta dela pela noite. Só que ele aparece apenas duas vezes por mês pra assinar os pontos do mês todo e vai embora.

Também conhecí os outros funcionários nesse mês que trabalhariam comigo, e que estavam a um tempinho a mais do que eu no serviço:

Seu Ailton, um senhor de seus quase 60 anos, casado e que praticamente é o faz-tudo da escola. Nunca fica parado, pois sempre tem serviço pra fazer e sempre encontra serviço pra fazer até onde não tem.

Elenildes, uma merendeira baixinha, morena de 28 anos, olhos castanhos, cabelos pretos e uma bunda que é um tesão. Não dou muito em cima dela porque ela é evangélica, e evangélicos aqui são todos cheios de restrições, traumas e impecilhos. Mas não consigo parar de mirar aquela bunda.

William, o mais novo. Negro, altura mediana, 22 anos, casado e tem uma filha. Vive sempre sorridente e é sempre brincalhão. Os alunos gostam dele por isso. Já de mim, eles são receosos, pois sou marrento e não sorrio pra todo mundo.

Também conhecí o pessoal da equipe diretiva. Os coordenadores Alberto, Gísela, Iracema e Karine. As secretárias Helena e Michele. O psicólogo da escola Jailton e por último os professores.

Os meses de janeiro e fevereiro foram bem tranquilos, pois os alunos estavam no período das férias escolares. O bicho começou a pegar mesmo foi em amrço, depois do carnaval quando começou. Na primeira semana de aula, a diretora fez uma reunião com a gente, e dividimos algumas tarefas, sendo que eu ficaria de lavar os banheiros da sala dos professores e o banheiro dos alunos. Juro que lavaria os banheiros dos professores até me aposentar (mentira, hehehe, eu não quero me aposentar nesse cargo), mas os dos meninos e das meninas são os piores! Eu não sei o que esse merdinhas comem em casa que cagam tanto. Entopem os banheiros de merda, e as vezes cagam fora do vaso. Mas as merdas mais fedorentas são as das meninas, sendo que no banheiro das meninas, o cheiro de urina é fatal: muitas mijam no chão do banheiro. Falo sisso com frieza, porque acredito que o governo federal deveria criar uma lei proibindo certos casais de terem filhos, pois não dão o mínimo de educação aos filhos. Eles nem dão descarga quando usam, e olhem que a maioria das descargas funcionam. E estou falando ainda dos alunos que estudam pela manhã, pois existe ainda os da tarde.

Entro lá com a minha máscara de gás, os produtos de limpeza e deixo os banheiros com cara de banheiro particular de rodoviária (esses que cobram pra você usar). Os alunos do turno da tarde, que é o turno em que trabalho, não tem do que reclamar. Mas eles também têm o seu lado negativo: jogam tudo o que não presta no chão, mesmo vendo uma lata de lixo a meio metro de distância. Uma vez pegamos umas caixas de papelão de merendas prontas (bolinhos de milho e rocomboles) e colocamos em pontos estratégicos, pra diminuir o nosso trabalho depois da merenda. Não adiantou nada. A minoria das minorias foi quem usou as caixas pra jogar o lixo. O resto jogava os saquinhos de plástico no chão, descaradamente. Por isso digo e repito: alguns casais deveriam ser proibidos pelo governo de terem filhos, pois não dão o mínimo de educação em casa pra eles.

Também não posso deixar de frisar que meu dia-a-dia na universidade melhorou, pois vou direto do trabalho pra mesma, tomo um banho, como alguma coisa e espero o horário das aulas chegarem. E esse ano fiz algo com o pessoal do centro acadêmico quase inacreditável: passamos 18 dias bebendo direto num bar que fica de frente à universidade. Só começamos a entrar em sala de aula semana passada.

Bom, esses foram os meus primeiros meses trabalhando em uma escola pública do pequeno estado de Sergipe. Qualquer semelhança com fatos e acontecimentos reais, terá sido mera coincidência. À partir da próxima postagem, vou escrever sobre os dias atuais.

2 comentários:

  1. Acho excelente esse tipo de narrativa! Relatar o cotidiano da forma como você fez não é pra qualquer um. Você consegue prender o leitor em tua história, que é contada de forma simples, mas cheia de conteúdo!
    Gostei. Desejo sorte com o blog e, como está começando, precisando de algo é só falar!
    Até!

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  2. Em qualquer lugar do Brasil é assim. E pior tem diretores que nao valoriza o trabalho de quem arruma essa bagunça.

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Caro leitor: se você se identificou com o texto, comente-o. Seu comentário também anima o meu dia-a-dia de assalariado.